sábado, 21 de abril de 2012

Eleição presidencial pode ter abstenção recorde na França (Postado por Lucas Pinheiro)

Às vésperas das eleições presidenciais deste domingo (22), muitos franceses ainda não sabem se vão votar.

Dez candidatos disputam o pleito, com destaque para o atual presidente, Nicolas Sarkozy, que tenta a reeleição, e para o socialista Françoi Hollande. Segundo as pesquisas de opinião, os dois devem passar para o segundo turno.

Na França, onde o voto não é obrigatório, tudo indica que a taxa de abstenção nas eleições deve ser alta. Uma campanha desinteressante e insatisfação com as propostas dos candidatos são as razões apontadas pelos eleitores para não comparecerem às urnas.

Segundo Antoine Jardin, especialista em participação eleitoral do Centro de Estudos Europeus de Sciences Po, é muito difícil estabelecer um prognóstico preciso sobre a abstenção. “Muitos franceses só decidem votar no dia da eleição”, afirma.

Um estudo do instituto de pesquisas Ifop avaliou em 32% a taxa de abstenção no primeiro turno, o que poderia ser um recorde para uma eleição presidencial.

Já segundo uma pesquisa do instituto BVA, 24 % dos eleitores não irão votar. Outro estudo do TNS-Sofres avalia a taxa de abstenção possível em 21%, se baseando no números de pessoas que têm certeza absoluta que comparecerão às urnas.

Estes números indicam que as pessoas que não vão votar são mais numerosas que os eleitores da candidata de extrema-direita Marine Le Pen e do candidato de esquerda radical, Jean Luc Mélenchon. A imprensa francesa chega a afirmar que os abstencionistas formam o terceiro maior partido da França.

Causas da abstenção
Segundo Antoine Jardin, existem diversas causas para a baixa participação nas eleições. A principal é sociológica. “As pessoas com menos estudos e menos inseridas socialmente, votam menos”, diz o pesquisador.

Outra razão é política, “quando o eleitor não encontra um candidato que corresponde a suas ideias”, ressalta. “E finalmente existem os que não votam para contestar, desafiar as regras da democracia, mas estes são menos representativos”, completa.

Para o especialista, este ano a abstenção deve ter um perfil diferente. “Ela deve ser mais importante entre pessoas da classe média porque as eleições acontecem exatamente durante as férias escolares”, diz.

Emmanuelle, de 33 anos, vai aproveitar o período para viajar com a família, por isso não vota no primeiro turno. Além disso, ela ainda não escolheu um candidato e não tem muitas expectativas para estas eleições.

“Eu não espero nada desta eleição”, diz. “Os problemas são europeus e internacionais. Eles estão além de nossas fronteiras. Então o presidente eleito terá que obedecer as decisões internacionais e europeias.”

Insatisfação
Dominique, de 37 anos, faz parte dos que não vão votar por insatisfação. Ela diz que sempre votou pela esquerda, mas pela primeira vez hesita porque está insatisfeita com as propostas do socialista François Hollande.
“Tenho medo que a classe média pague ainda mais impostos. Nós já estamos totalmente sufocados,” diz esta diretora de uma empresa de transportes.

Ela também teme que o assistencialismo aumente com a esquerda no poder. “Acho que existem pessoas pobres que precisam de ajudas, mas muita gente aproveita do sistema”, afirma.

Outra coisa que desmotiva Dominique é a falta de experiência política do candidato socialista. “Ele não pode ser presidente de um país sem nunca ter sido ministro”. Na França, o cargo de ministro é visto como uma etapa obrigatória para os candidatos à presidência. Hollande, antes de ser deputado e candidato, foi apenas primeiro-secretário do Partido Socialista.

Por outro lado, ela não quer votar em Nicolas Sarkozy. “As propostas dele até poderiam me interessar, porque ele está mais próximo da classe média, mas por outro lado, ele não cumpriu suas promessas e não fez um bom governo”, afirma.

Voto dos jovens
Outro fator que pode influenciar na hora de votar é a idade. Segundo Antoine Jardin, os jovens “têm um comportamento eleitoral menos regular que as pessoas mais velhas”.

Além disso, o pesquisador afirma que os jovens acham que o debate político não tem impacto em suas vidas cotidianas. Segundo Jardin, é necessário ter tempo para entender as propostas de todos os partidos políticos. “É preciso um processo de aprendizado do voto. Com o tempo as pessoas aprendem a votar e participam mais.”

Mas o abstencionismo pode alcançar todas as gerações. Roger Evano, de 63 anos, sempre votou. Mas este ano, está pensando em não participar das eleições.

“Se decidir votar será contra um candidato, e não por um”, afirma Roger. Ele, que sempre vota pela esquerda, acredita que a abstenção este ano não deve prejudicar os socialistas. “As pesquisas mostram que os candidatos que vão passar para o segundo turno são Sarkozy e Hollande. Não acredito que Marine Le Pen ou Mélenchon consigam ultrapassá-los.”

Quem sai prejudicado
Os franceses lembram muito bem das eleições de 2002, quando o candidato socialista Lionel Jospin foi prejudicado por uma abstenção recorde de 27%. Os eleitores de esquerda não foram votar, deixando o caminho livre para que o candidato de extrema-direita, Jean Marie Le Pen, passasse para o segundo turno contra o então presidente Jacques Chirac.

O trauma fez com que os franceses fossem em massa às urnas nas eleições de 2007, que teve a menor taxa de abstenção de todos os tempos, somente 16% . Nestas eleições, François Hollande insiste em seus comícios e entrevistas, que a vitória não é garantida e que é necessário votar.

Mas Antoine Jardin acredita que este as eleições francesas não terão grandes surpresas. “Eu não acho que vamos ter uma surpresa como a de 2002. Se olhamos as últimas pesquisas, os dois candidatos, Sarkozy e Hollande, parecem estar claramente a frente.”

Por outro lado, o pesquisador também afirma que, ao contrário do que se pensa, a abstenção não prejudica somente os candidatos de esquerda e este ano ela poderia ser negativa para Sarkozy, que tem uma imagem desgastada diante de seus eleitores.

“Uma das principais razões da abstenção é a insatisfação com o candidato em que se votou anteriormente. E muitas pessoas que votaram em Sarkozy estão insatisfeitas”, sublinha o especialista.

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