Os brasileiros que moram na França não têm expectativas de mudanças para as eleições presidenciais que acontecem em 22 de abril e 6 de maio (1º e 2º turno respectivamente).
Eles acreditam que os principais problemas da França não estão sendo tratados na campanha.
“Espero que o país saia desta morosidade e engessamento generalizados”, esta é a expectativa da advogada Isabelle, de 29 anos para as eleições. Ela mora na França desde 2008.
Na França, somente cidadãos franceses podem votar. Isabelle, que é franco-brasileira, diz que ainda não tem candidato certo para estas eleições, mas está decepcionada com as propostas.
“A campanha tem centralizado o debate e polemizado em cima de questões que dizem respeito à vida privada das pessoas, mais do que às questões públicas que interessam a todos.” Diz a advogada que cita como exemplo o debate sobre questões religiosas, principalmente relacionadas ao islamismo, que tomaram conta da campanha eleitoral.
Ela acha que de forma geral, os assuntos têm sito tratados muito superficialmente. “Os candidatos, por razões óbvias, têm abordado a questão da crise econômica. Mas nenhum deles apresenta, de forma clara e exaustiva, uma solução”, diz.
Essa também é a opinião de Luiz Ferreira, que mora na França há 35 anos. Ele acha que os candidatos não falaram, até agora, sobre o que os franceses querem ouvir, “o francês quer ouvir primeiramente sobre a falta de emprego, que aumenta a cada trimestre. Principalmente entre os jovens e entre as pessoas maiores de 45 anos.”
Isabelle confirma o ponto de vista de Luiz. Para ela o desemprego é um grande problema. “Sou recém-diplomada aqui e faz mais de quatro meses que procuro um emprego sem nem conseguir uma entrevista. E sempre ouço falar de outras pessoas na mesma situação”, afirma a advogada.
Para ela, o assunto acaba sendo abordado juntamente com o tema da crise, mas não é tratado como uma questão em si.
O desemprego na França alcançou os 10% no mês de fevereiro deste ano. Segundo pesquisas de opinião, o desemprego é a principal preocupação dos franceses para as próximas eleições.
Outro problema que, segundo Luiz, está fora da discussão é o da redução do poder aquisitivo. Diretor de uma agência especializada em turismo cultural na América Latina, ele observou mudanças no comportamento dos consumidores. “Na França hoje existe uma classe alta que pode consumir, mas a grande parte dos franceses não consome mais.”
A jornalista Danielle Legras, que vive na França há oito anos, mas não tem nacionalidade francesa, diz que nunca viu a situação tão difícil. “Há meses que a crise está durando”, afirma ela. “Não tenho muitas expectativas e não sei se algo vai mudar depois das eleições.”
A economista Marilza Foucher, que mora na França há mais de 30 anos votou pela primeira vez nas eleições de 1988, quando François Mitterand foi eleito pela segunda vez. Para Marilza, a campanha deste ano não está fazendo as “pessoas sonharem”, a economista também afirma que falta debate e análise política. “As pessoas não têm mais tempo para o debate e para a reflexão política.”
Na campanha para o primeiro turno, ainda não foram realizados debates em que os candidatos se enfrentam face a face. Marilza também aponta a grande ausência da América Latina e dos países emergentes nesta campanha.
Imigração
Tanto Isabelle quanto Marilza acreditam que o governo do atual presidente francês, Nicolas Sarkozy, aumentou a tensão baseada em questões de raça e crença entre as pessoas. “O tema da imigração sempre esteve presente nas campanhas, mas não com um conteúdo racial. Não existia a estigmatização de uma comunidade”, afirma Marilza.
Isabelle critica a política de imigração de Sarkozy que dificulta a obtenção de vistos para estudar na França. A psicóloga Larissa Assunção concorda com Isabelle. Ela acredita que a situação, que já não é fácil atualmente para os estudantes, pode piorar no caso de uma vitória de Sarkozy.
Larissa, que chegou em Paris em 2001 como estudante, trabalha atualmente como psicóloga em uma instituição que cuida de pessoas idosas. “A maioria das pessoas que trabalha na casa, principalmente na limpeza e no cuidado com os velhinhos, é estrangeira”.
Ela não pode votar nas eleições porque não é cidadã francesa e vê como algo positivo a lei prometida pelo candidato socialista, François Hollande, caso ganhe as eleições, que daria aos estrangeiros que vivem na França há mais de 5 anos, o direito de votar nas eleições municipais. “Os estrangeiros se envolveriam mais na vida política francesa”, afirma a psicóloga.
Atualmente, estima-se que na França vivem 7,2 milhões de imigrantes, ou seja, 11% da população do país. Segundo a embaixada brasileira, é difícil contabilizar o número de brasileiros que vivem no país, mas calcula-se que entre 25 mil e 30 mil, 10% deles de maneira ilegal.
Sobre os extremismos que ganharam força na França nos últimos anos, Isabelle afirma que acha lamentável as tendências mostradas pelas pesquisas que indicam que a candidata de extrema-direita, Marine Le Pen, é a preferida entre os jovens de 18 a 24 anos. “Imagino que sejam jovens que talvez tenham votado em Sarkozy no passado, mas desiludidos com o governo atual, acabaram aderindo à extrema-direita.”
Expectativas
Os brasileiros não estão muito confiantes nas propostas dos candidatos e acham que eles não vão conseguir cumprir suas promessas de campanha. Danielle Legras, por exemplo, não acredita que Hollande cumprirá sua meta de aumentar em 75% os impostos das pessoas que ganham mais de 1 milhão de euros por ano.
Já Luiz acredita que se o candidato socialista for eleito haverá um novo entusiasmo com a política na França. “Eu não digo que será como aconteceu em 81, com a eleição de Mitterand, mas mais ou menos isso, porque o pessoal está precisando de uma mudança,” diz o empresário.
“Se for o Sarkozy, eu acho que as pessoas ficarão desencantadas, mas seguras, porque sabem que ele é um presidente que pode segurar as pontas. De maneira errada ou certa, ele segura,” conclui.