Governo tenta evitar novas paralisações, mas estudantes voltam nesta terça às ruas e sindicatos programaram mais dois dias de protestos nesta semana
25 de outubro de 2010 | 22h 30
Andrei Netto, de O Estado de S. Paulo
PARIS - A mobilização de estudantes e trabalhadores da França contra a reforma da previdência deve ganhar novo fôlego a partir desta terça-feira, 26, quando recomeçam os protestos de rua. Enquanto os protestos ressurgem, o governo faz as contas: oito dias de greves teriam custado à economia do país no mínimo € 1,6 bilhão. A manifestação, convocada pelas uniões estudantis, acontece no dia em que a Assembleia Nacional deve ratificar seu aval e na véspera da promulgação da lei que vai aumentar a idade mínima de aposentadoria.
Os protestos foram convocados pela União Nacional de Estudantes da França (Unef) e devem ocorrer em Paris, Marselha, Bordeaux, Lyon e Toulouse, entre outras 20 cidades, quando os deputados estiverem analisando em segundo turno o texto da reforma. Entre os organizadores, a expectativa é de que a mobilização abra um novo calendário de protestos de rua, elevando a pressão social contra o governo, mesmo que a nova legislação previdenciária seja promulgada.
Outros dois dias de greve estão programadas pelo grupo intersindical: quinta-feira, 28, e sábado, 6 de novembro.
Segunda-feira, os protestos foram mantidos pelos trabalhadores petroquímicos, que continuam bloqueando 9 das 12 refinarias de petróleo. Embora a mobilização esteja diminuindo, o resultado prático do bloqueio é a falta total ou parcial de combustíveis em cerca de 30% dos postos do país. No domingo, nos arredores de Paris, um simples reabastecimento levou até três horas.
Greve cara
Enquanto estudantes e sindicalistas tentam manter a pressão, o governo trabalha para desmobilizar a opinião pública. Segunda, o ministro do Trabalho, Eric Woerth, fez um apelo pelo retorno da normalidade no país. "Não adianta fazer greve hoje", cutucou o executivo, lembrando que a lei já foi aprovada em primeiro turno e será promulgada nesta semana pelo presidente Nicolas Sarkozy. "Após o voto da lei, é lei. É preciso respeitar. Em algum momento será preciso parar de bloquear o país."
Também a ministra da Economia, Christine Lagarde, veio a público pedir o fim das greves, em razão do custo elevado. Segundo o ministério, cada dia de paralisações teria custado ao país "de € 200 milhões a € 400 milhões", entre perda da atividade econômica e importação de combustíveis. Se considerados os oito dias em que a tensão social foi mais elevada, o cálculo giraria entre € 1,6 bilhão e 3,2 bilhão. Ao jornal Le Figaro, Lagarde lembrou que a Europa ainda sai da recessão e o momento é delicado: "Saímos da crise em condições razoavelmente boas, mas não se pode pesar contra a retomada com esses movimentos, que são dolorosos para a economia e ainda mais para algumas pequenas empresas".
Já o Medef, o principal sindicato patronal do país, avalia em € 4 bilhões o prejuízo. Setores diretamente atingidos pelas greves também apresentaram faturas pesadas. Na indústria petroquímica, o prejuízo por 30 dias chegaria a € 1 bilhão. Já Patrick Daher, presidente do Grande Porto Marítimo de Marselha (GPMM), o maior porto da França, reclama perdas de € 600 milhões por 21 dias de paralisação.
As estimativas de custos apresentadas, porém, provocam dúvidas entre economistas. Apesar de estimar as perdas em bilhões de euros, nem mesmo o governo acha necessário refazer os cálculos de desempenho do Produto Interno Bruto (PIB), porque greves mais amplas – como a de 1995 – causaram redução trimestral de apenas 0,2% na atividade.
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