quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Hollande visita Brasil para impulsionar comércio e defender jatos Rafale


 12 de dezembro de 2013 | 18h 03

ALONSO SOTO - Reuters

O presidente francês, François Hollande, procurou tirar vantagem do esfriamento nas relações Brasil-Estados Unidos para pressionar pelos interesses comerciais da França durante uma visita ao país nesta quinta-feira, incluindo seu esforço para conseguir um contrato multibilionário de venda de jatos de combate para o Brasil.


O jato Rafale, fabricado pela Dassault Aviation, da França, está competindo com o F/A-18 Super Hornet da Boeing, dos EUA, e o Gripen NG, produzido pela Saab, da Suécia, para fechar um contrato avaliado em pelo menos 4 bilhões de dólares, com prováveis encomendas posteriores que elevariam enormemente seu valor.

Embora autoridades brasileiras digam que agora as restrições orçamentárias tornem improvável uma decisão antes de 2015, a visita de Hollande demonstra os esforços da França para ganhar um dos mais cobiçados contratos do setor de defesa no mundo emergente, num momento em que as nações desenvolvidas estão tendo de efetuar cortes nos seus orçamentos militares.

"Nós temos de ampliar nossos laços econômicos e comerciais. Apesar da crise, nossa troca comercial nunca parou de crescer", disse Hollande, depois que as autoridades assinaram vários acordos bilaterais.

Dilma agradeceu a Hollande por seu apoio ao esforço do Brasil de fortalecer uma nova ordem mundial para a Internet, depois de informações de que os Estados Unidos espionaram os dois países, e também as comunicações pessoais da presidente brasileira.

A rusga diplomática entre Brasil e Estados Unidos sobre as acusações de espionagem poderia contribuir para ajudar a Dassault a ganhar o contrato dos jatos de combate, já que algumas autoridades brasileiras dizem ser impossível firmar um acordo com um país no qual não se pode confiar.

Ao ser perguntado sobre o contrato na área de defesa, a ministra francesa de Comércio, Nicole Bricq, disse: "É uma decisão soberana do Brasil, e nós sabemos que enfrentamos competição". Nicole não quis responder se Hollande e Dilma conversaram sobre a questão dos jatos.

Antes do escândalo de espionagem, que levou Dilma a cancelar uma visita de Estado a Washington em outubro, a Boeing era amplamente considerada a líder na corrida pelo contrato dos jatos.

No que alguns consideram como um sinal do congelamento das relações com os Estados Unidos, o Brasil escolheu um consórcio liderado pela Thales, da França, para construir e lançar um satélite para ajudar a proteger as comunicações brasileiras. O contrato é avaliado em cerca de 600 milhões de dólares e a previsão é que o satélite seja lançado em 2016.

Nos seus dois dias de visita ao Brasil, que inclui paradas em Brasília e São Paulo, Hollande está acompanhado do presidente e executivo-chefe da Dassault Aviation, Eric Trappier.

Um funcionário do governo brasileiro disse, sob a condição de manter o anonimato, que propostas de parceria com a França para construir submarinos e helicópteros, e promessas de compartilhar tecnologia, deram à Dassault certa vantagem na disputa para renovar a envelhecida frota de jatos de combate do Brasil, mas o preço continua sendo um ponto crucial.

NEGOCIAÇÕES MERCOSUL-UE

Um outro ponto fundamental no encontro é o esforço para relançar as negociações de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul, formado por Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Venezuela.

Os grupos comerciais estão prontos para intercambiar propostas de abertura de mercados em um pacto que poderia abranger 750 milhões de pessoas e 130 bilhões de dólares em comércio anual.

Os europeus pediram ao bloco sul-americano que estenda para janeiro a data de apresentação das ofertas, depois de terem fixado o final de dezembro como o prazo-limite.

As autoridades brasileiras destacaram a recusa da França em reduzir subsídios aos seus agricultores como uma das razões pelas quais as negociações para um acordo comercial fracassaram uma década atrás.

"Nós estamos consolidando a nossa proposta. Esperamos que a União Europeia possa fazer a sua oferta tão logo seja possível, mesmo que não possa fazer isso este ano", disse o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, a representantes do empresariado francês em Brasília.

A França é o sexto maior investidor estrangeiro no Brasil, onde tem negócios nos setores petrolífero, automotivo, varejista e de energia elétrica.